quarta-feira, 2 de janeiro de 2008

GLOBALIZAÇÃO: SUA RELAÇÃO COM O MUNDO DOS EXCLUíDOS

Aldrin Costa de Souza*
Marlene dos Reis Brandão*


Nas duas ultimas décadas do século passado, o termo globalização passa a ter relevância reconhecida no meio acadêmico. Contudo, comprovadamente a globalização é uma tradição muito longa, apresentando várias ondas no passado milenar, principalmente a partir do século XVI com as grandes navegações. A noção de integração das diferentes culturas e povos como “um mundo” já foi desejada há muito tempo e continua como desígnio para muitas gerações. O termo geralmente está associado à idéia de homogeneidade mundial, porém, isso é inadequado para definir o momento em que vivemos. O cotidiano das pessoas está interligado em uma rede de relações mundiais, mas tais relações não condicionam uma homogeneidade social. Ao contrário, ressaltam as diferenças criando e recriando especificidades que alimentam essa rede de relações global.
Na realidade, a busca por uma definição do que é o processo de globalização parece ser uma tarefa conflitante. O processo, longe de ser descrito e simplificado em meias dúzias de palavras, é extremamente complexo, pois lida com diferentes escalas espaciais de análise, com geopolíticas minuciosas e contraditórias e com dinâmicas culturais em choque. O cenário acadêmico com isso tenta fornecer subsídios para formatar esse processo, que por muitas vezes apresenta-se em suposições e teorias que hora enaltecem, e hora criticam.
As grandes e pequenas nações periféricas têm hoje o desafio de se depararem com o dilema da reconfiguração de condições de soberania e hegemonia e com o declínio do Estado-Nação como centro das relações mundiais. Causado principalmente, segundo especialistas, pelas alianças dos blocos econômicos, geopolíticos e imperialistas, provocando dependência e interdependência onde vínculos antigos e novos atrelanado nações umas as outras em condições de igualdade e principalmente, de desigualdade. Grandes organizações como o FMI, OMC, BIRD, entre outras, exercem suas atividades priorizando sempre os interesses das nações com maior influência econômica, política e militar. Assim como, em escala global, as empresas e corporações transnacionais constituem centros de poder que ultrapassam soberanias e hegemonias e exercem domínio em diferentes nacionalidades.
É inegável que o processo de globalização tem trazido desenvolvimento aos paises periféricos. No entanto, muitos dos seus efeitos colaterais ainda são superiores aos seus benefícios. Observa-se hoje, uma profunda desigualdade entre várias regiões do planeta, sendo que muitos países encontram-se a margem desses processos. A miséria, o desemprego, a precarização dos salários e a falta de perspectivas afetam boa parte da população mundial, e não só nos paises periféricos, mas também nos paises desenvolvidos, só que em menores proporções. Os problemas ecológicos também se avolumam e denotam os limites do capital em sua etapa globalizada. Com isso, cresce no mundo várias reuniões e manifestações globais que discutem os benefícios e os malefícios do processo. Recentemente dois grandes eventos aconteceram paralelamente para altercar isso. Em Davos alguns dos principais grupos de dirigentes globais reuniram-se para coordenar ações que permitam continuar a montagem de uma economia globalizada no Fórum Econômico Mundial. Em Caracas, no Fórum Social Mundial, milhares de pessoas se reuniram para discutir as injustiças que estão por trás do seu crescimento.
O que se deve ser frisado é que, longe de ser um processo apenas econômico, a globalização é também um processo social e político, entendendo a sociedade como um corpo social que influencia e é influenciado, no tempo e no espaço, por fenômenos produzidos pelos próprios homens em sua relação em comunidade e com o meio físico onde vivem. Para além das diferenças étnicas, religiosas, e lingüísticas dos povos, podemos falar de uma nova divisão do mundo: de um lado uma minoria é beneficiada pela globalização neoliberal e, de outro, uma maioria que é prejudicada com a ampliação dos mercados das potencias dominantes. Esse conflito está no centro do debate atual da humanidade, cujos efeitos caracterizam o espírito do nosso tempo e influenciam a humanidade futura. Existem muitos estudos que debatem se as sociedades estão mais fraguimentadas ou homogeneizadas. Porém, a possibilidade de uma crescente desumanização e coisificação é extremamente vigente.

*Este texto foi criado em conjunto com uma colega de classe durante a disciplica Tópico: Globalização do curso de ciências socias da UFRR e também publicado no jornal Folha de BoaVista.

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